Joana Vivas e Quinta Olival da Murta: A Expressão da Serra Oca

A Joana Vivas representa a quarta geração de uma tradição familiar na Quinta Olival da Murta, no Cadaval (Região de Lisboa). Formada em Arqueologia, Joana regressou à terra para dar continuidade ao trabalho do seu avô, transformando o projeto familiar num modelo de agricultura biológica e regenerativa. Sua história como enóloga começou por seguir um caminho convencional, mas logo passou por uma transformação para uma filosofia de trabalho guiada por honrar o legado familiar, reinventando-o sob os pilares da sustentabilidade e da mínima intervenção.

A Quinta do Olival da Murta está localizada na região vitivinícola de Lisboa, junto à Serra de Montejunto. Esta serra cria condições para um microclima particular, sentindo-se a proximidade ao Oceano Atlântico, e as suas manhãs frescas e nebulosas permitem longos períodos de maturação das uvas e um bom equilíbrio nos vinhos.

A Quinta utiliza exclusivamente castas portuguesas e desenvolve uma viticultura orientada para a regeneração do solo e recriação de um ecossistema equilibrado e biodiverso. Para isso, a equipa trabalha em modo biológico certificado e os seus vinhos ainda podem ser considerados como Vegan, pois assim trata a sua produção, apenas não possui o certificado.
​
A poda e a vindima são feitas manualmente e a vinificação é simples, com fermentação espontânea, onde nada é retirado e nada é adicionado para além de pequenas doses de sulfuroso, como conservante, aproveitando ao máximo o que a natureza lhes dá a cada ano.

Os vinhos Serra Oca são criados com leveduras indígenas e paciência na adega, expressando a frescura vertical e a mineralidade pura dos solos calcários da Serra de Montejunto. É a reencarnação de um legado familiar através da inovação sustentável.

A marca de vinhos, Serra Oca, reflete a essência do seu terroir único, encaixado entre a influência Atlântica e o microclima fresco da Serra de Montejunto, numa região caracterizada por solos calcários do período Jurássico com estrutura franco-argilosa, tendo algumas zonas areno-argilosas.

Filosofia de Produção e o Regresso às Raízes

A essência do trabalho de Joana Vivas é trabalhar com a natureza e não contra ela. O objetivo é criar vinhos autênticos que se revelem no seu próprio tempo, sem urgências ou artifícios.

Viticultura Biológica e Regenerativa:

• Biodiversidade Acima de Tudo: A Quinta Olival da Murta está certificada em agricultura biológica e tem evoluído para práticas regenerativas. Joana e a sua equipa focam-se em recuperar e enriquecer o solo, incentivando ativamente a biodiversidade para além da monocultura da vinha. Há um olhar diário para as vinhas e seu entorno para entender o todo que envolve a vinha e ter seu trabalho guiado pelos eventos diários que a natureza proporciona.

• Solo Vivo: O solo é tratado como um organismo vivo, sendo recuperado através da plantação de leguminosas e outras plantas que coexistem com as videiras. Este sistema fortalece o ecossistema, o que é fundamental numa região desafiante devido às humidades, ventos e nevoeiros matinais da influência Atlântica.

• Castas Tradicionais: A produção privilegia somente castas portuguesas que se adaptaram historicamente ao terroir local, como Fernão Pires, Arinto, Castelão, Aragonês e Touriga Nacional, garantindo a máxima expressão da origem, com a inclusão do Moscatel Graúdo que pode ser considerada uma das estrelas do seu portefólio.
  

Método Produtivo de Mínima Intervenção

Na adega, que aproveita os antigos lagares construídos pelo seu avô, a filosofia de respeito e paciência é mantida. A intervenção é mínima para permitir que o vinho se revele:

• Leveduras Indígenas: A fermentação é conduzida exclusivamente por leveduras espontâneas (indígenas) presentes nas uvas e na adega, um fator essencial para a identidade e complexidade dos vinhos Serra Oca.
  
• Gestão do Tempo: Joana acredita que o tempo é o fator fundamental para a qualidade. A vinificação é tradicional, com vindima manual, e os vinhos repousam e estagiam pelo tempo que for necessário. Nos vinhos brancos, a fermentação em contacto com a película (casca) por mais de uma semana, busca maior textura, taninos e complexidade aromática, que no caso em especial do Fernão Pires, fazem seus intensos aromas florais, característico da casta, alterarem-se com maior complexidade, mais delicadeza e estrutura.
  
• Envelhecimento Respeitoso: O envelhecimento é feito numa combinação de materiais, incluindo cubas de inox e barricas de carvalho francês usadas, que garantem uma micro-oxigenação suave sem adicionar excesso de madeira, preservando a intensidade e frescura que são a assinatura dos vinhos Serra Oca.
  

O projeto de Joana Vivas na Quinta Olival da Murta é uma história de reencarnação familiar, onde a tradição é honrada através da inovação sustentável, com uma grande preocupação com seu entorno e as consequências de suas ações para o meio ambiente. O resultado são vinhos de perfil vertical, fresco e com uma mineralidade reveladora que capturam a autenticidade da Serra Oca.